Apresentação do DECIR para o Alentejo
Com a participação do ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, da secretária de Estado da Proteção Civil, Patrícia Gaspar, e de múltiplas entidades, foi apresentado o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (DECIR).
O presidente da Câmara aproveitou a ocasião para solicitar a construção de um novo Posto da GNR e apoio para a aquisição de maquinaria pesada pelo Municípios, e depois da visita a várias forças integradas na Proteção Civil no Jardim do Cruzeiro, foi a vez de todos participarem num simulacro do Programa “Aldeia Segura, Pessoas Seguras” na aldeia de Alvisquer, em Belver.
Presentes no cineteatro Francisco Ventura na tarde de terça-feira, dia 6, autarcas de Gavião e de vários outros concelhos, como o presidente de Ponte de Sor e da CIMAA, Hugo Hilário, com o vice-presidente, também os presidente e vice-presidente do Crato, e os presidentes de Arronches, Avis e Sousel, e o vereador Paulo Pinheiro, de Campo Maior, o Comandante da PSP e representantes da GNR, da PJ e do Exército, de entre outras entidades como o Comandante Nacional da ANEPC, André Rodrigues, o Comandante Regional e os Comandantes sub-regionais, Comandantes de Bombeiros e Bombeiros, FEB, GIPS, ICNF, sapadores e outras entidades.
Na sessão usaram da palavra o presidente da Câmara, José Pio, o presidente da ANEPC, Brigadeiro-General Duarte Costa, o Comandante Regional José Ribeiro, que apresentou o dispositivo, e o ministro da Administração Interna.
Para além do caso do Quartel da GNR de Gavião, o presidente José Pio lançou o repto ao ministro para que possa ser apoiada a aquisição de maquinaria pesada pelos municípios, nomeadamente máquinas de rastos, para atuar em teatro de operação de incêndios florestais, o que seria seguramente uma mais-valia a vários níveis e para além da prevenção e combates aos incêndios. José Pio explicou as dificuldades em encontrar empresas que façam uma silvicultura de qualidade que permita encarar depois a época quente com maior tranquilidade, e pôs o dedo noutras feridas como o despovoamento e as suas consequências.
Caracterizando o concelho, o presidente apontou que o Município tem cerca de 294 kms quadrados, sendo o único concelho do Alentejo que possui território nas duas margens do Tejo, que conta com cerca de 3.500 pessoas, na sua maioria idosos, sendo um concelho disperso com 33 povoações, e salientou a preocupação com a segurança sem deixar de vincar a acção do Município que recentemente construiu dois reservatórios de água, um na Freguesia de Belver e outro na de Margem para abastecimento de meios no combate a incêndios, sendo este um investimento na ordem dos 100 mil euros e que pretende estender às restantes freguesias.
José Pio lembrou que «ciclicamente somos afetados por fogos de grandes proporções. Assim foi em 2003, 2005 e em 2017, com quase sete mil hectares de área ardida, com a Freguesia de Belver quase dizimada e a União de Freguesias de Gavião e Atalaia fortemente afetada. Ainda assim, felizmente, não perdemos nem uma vida humana, e apenas uma casa de primeira habitação e vários armazéns agrícolas foram atingidos. Tudo isto para dizer que ao longo dos anos o Município tem feito um tremendo esforço logístico e financeiro para prevenir, em primeiro lugar, e minimizar quando infelizmente os incêndios nos atingem com as consequências nefastas causadas na agricultura, na floresta, na paisagem e sobretudo no ânimo das pessoas».
O presidente realçou depois o trabalho das equipas de sapadores florestais no concelho, da responsabilidade das duas associações de produtores florestais, bem como da brigada da CIMAA, fundamentais para a prevenção estrutural, dando a conhecer que em 2022 foram intervencionados cerca de 30 há de rede primária e 136 na rede viária florestal, mais 580 nas povoações, este quase na totalidade pelos proprietários, para além de ter sido feita a manutenção em mãos de 375 kms de rede viária florestal.
José Pio considerou ainda como muito importante a entrega de kits de primeira intervenção às associações de caçadores, de produtores florestais e Juntas de Freguesia, e deu a conhecer que seis funcionários do quadro da Câmara Municipal estão em regime de permanência no corpo de bombeiros voluntários, sendo que o Município comparticipa em 50% o custo das duas Equipas de Intervenção Permanente (EIP’s) existentes.
O edil realçou ainda a implantação do programa “Aldeia Segura, Pessoas Seguras” em 20 aldeias, o que se pretende estender à totalidade das povoações, no entanto manifestou apreensão relativamente ao que possa acontecer este ano em termos de incêndios, mas «ainda assim não estamos preparados para verões como o de 2017.
Condições meteorológicas adversas, com calor abrasador e humidade relativa muito perto do zero, são imponderáveis que não controlamos. Sei muito bem o que é passar os meses de verão em alerta vermelho. Sei também que nos últimos dois anos apenas tivemos quatro ocorrências em 2021 com um hectare ardido e zero ocorrências em 2022. Acredito que tivemos alguma sorte, mas também sei que esta sorte nos deu muito trabalho», declarou José Pio, ciente de que «fizemos, nós Município, e todas as entidades ligadas e o Governo Central, a melhor prevenção e preparação de sempre para os próximos meses».
O Brigadeiro-General Duarte Costa lembrou que o Alentejo tem um «terreno muito diverso», mas o Comandante José Ribeiro «tem a responsabilidade de construir um dispositivo que sempre deu e dará resposta».
O presidente da ANEPC disse depois que em termos de Proteção Civil «o grande agente tem sido o povo português», pois «há uns anos havia centenas de ignições diárias e atualmente há dias de apenas uma centena, e apenas 10% dos incêndios não se conseguem debelar no ataque inicial, o que representa 1.500 com necessidade de intervenções musculadas».
E se há aspetos que produzem diferentes, um deles é o dinheiro, e de seis milhões de euros que antes eram distribuídos para todos os Bombeiros do Alentejo, agora passou para 11 milhões, quase o dobro. Mas se tudo foi contabilizado, são 73 milhões, que é a previsão para 2023, declarou o presidente da ANEPC, que assume que «não estamos descansados, mas muito tranquilos, porque tudo tem sido feito» para enfrentar com sucesso este verão.
O ministro teve uma intervenção muito longa, pedagógica e explicativa, começando por realçar que este ano há um «reforço» dos meios aéreos e terrestres, e mesmo uma «antecipação» e um «pré-posicionamento dos meios», lembrando que grande parte das inovações estratégicas resultam dos ensinamentos sobre o que se passou na Grécia».
José Luís Carneiro salientou que foi possível assegurar um financiamento do Ministério da Coesão de 122 milhões de euros para reforço do combate a incêndios, deixando um apelo aos municípios para a atualização dos seus Planos de Defesa da Floresta e de Proteção Civil Municipal.
O ministro lembrou que estamos numa época de incertezas, já que «em resultado das alterações climáticas e demográficas emergem incêndios extremos» com grandes dificuldades de gestão, o que já aconteceu em situações de dias com 47º, ventos de 60kms/h e humidade relativa inferior a 10%, pelo que em cenários com este, «por mais meios que haja são sempre escassos».
José Luís Carneiro aponta que «os cidadãos têm nas suas mãos o contributo para a diminuição de dois terços das causas» dos incêndios, exemplificando que no último ano «se em 64% dos casos tivesse havido cuidados não tinham ocorrido incêndios», mas lembra o ministro que «o fogo faz parte dos ecossistemas», mas «tem de ser usado nos termos adequados», pelo que é essencial «transmitir a mensagem para o cuidado no uso do fogo», como por exemplo nas pequenas máquinas.
O ministro deu exemplos da eficácia do sistema, em que em 90,80% (o objetivo era 90%) dos casos os incêndios foram debelados nos primeiros 90 minutos, o despacho de meios foi feito num minuto e 20 segundos (e a meta era cinco minutos e meio), a chegada dos Bombeiros ao incêndio foi de 16 minutos, e os reacendimentos foram de 4,8%, agradecendo por conseguinte «aos Bombeiros» e «aos autarcas» o seu trabalho, sublinhando que «temos mais meios humanos, materiais, mais financiamento e mais conhecimento», mas o sucesso da época «não dispensa os comportamentos humanos», pelo que é exigida muita atenção ao risco, deixando ainda o ministro o alerta para que «depois da chuva» surgem massas de calor, haverá «mais ervas» e aumenta a «probabilidade de fogo».
A concluir, o ministro deixou uma mensagem de «reconhecimento e estímulo a todos os Bombeiros, e particularmente aos Bombeiros Voluntários de Gavião, pelo empenho, dedicação e operacionalidade com que abordam todas as situações de emergência com que são confrontados.
Obrigado a todos, sem nunca esquecermos que Proteção Civil somos todos nós», sublinhou José Luís Carneiro.
Notícia do Jornal Alto Alentejo da edição nº 824 de 14 de junho de 2023